sexta-feira, 5 de junho de 2009

Desiludir-se

As ilusões são necessárias como projetos bem sucedidos de impossibilidades.
Pensam que a mudança é uma doce ilusão.

Horrível pensar que para se transformar é necessário
Que se reafirme algo projetado no passado ou no futuro.

O passado e o futuro como projetos são a negação do presente.

Passado e futuro deveriam ser afirmações faticamente plenas e paupáveis,
Probabilidades estatísticas da ocorrência de fatos empiricamente comprováveis.

E o presente, este sim, se tornar projeto.
Projeto não como projeção, projeto não como afastamento temporal.
Projeto não como a pretensão de se tornar o algo projetado.
Projeto não como a estipulação de regras e princípios norteadores de existências.

O projeto é a inversão do devir em jazer.
Não um, nem outro, mas justamente o exato instante de inversão.

Imagine o projeto como ponto de mutação.
Não como momento, não como encadeamento processual de procedimentos transformistas.

Imagine o projeto como o agir auto-consciente daquele que encara o absurdo.

O presente como projeto é subsumir o absurdo da vida a um quadro de escolhas responsabilizáveis.

Neste sentido, o absurdo da vida é composto de quadros de escolhas irresponsáveis.
Impossibilitadas de serem responsabilizadas porque nasceram da ausência de auto-consciência.

O projeto é o oposto do absurdo.

O projeto não tem a pretensão de negar ou solucionar o absurdo.
É tão somente a sua concretização oposta.

A mudança, realizada desse modo, é uma doce desilusão.

Desilusão é tornada o projeto bem sucedido de possibilidades.
É a negação da ilusão como o conforto daquilo projetado no passado ou futuro.

Perante o presente como projeto, o único sentimento possível é de desilusão
Ante a capacidade auto-conscientizada de que,
Uma vez o presente seja tornado projeto,
O que será e o que já foi são amputados do fluxo de acontecimentos.

O projeto torna totalmente possível qualquer forma de presente.

O projeto concede ao ser desiludido a capacidade
De agir de forma consciente e responsável dentro do absurdo da vida,
Opondo o projeto ao absurdo. Sem negá-lo, mas apenas ausentando-o.

Negar o absurdo seria uma ilusão.