As ilusões são necessárias como projetos bem sucedidos de impossibilidades.
Pensam que a mudança é uma doce ilusão.
Horrível pensar que para se transformar é necessário
Que se reafirme algo projetado no passado ou no futuro.
O passado e o futuro como projetos são a negação do presente.
Passado e futuro deveriam ser afirmações faticamente plenas e paupáveis,
Probabilidades estatísticas da ocorrência de fatos empiricamente comprováveis.
E o presente, este sim, se tornar projeto.
Projeto não como projeção, projeto não como afastamento temporal.
Projeto não como a pretensão de se tornar o algo projetado.
Projeto não como a estipulação de regras e princípios norteadores de existências.
O projeto é a inversão do devir em jazer.
Não um, nem outro, mas justamente o exato instante de inversão.
Imagine o projeto como ponto de mutação.
Não como momento, não como encadeamento processual de procedimentos transformistas.
Imagine o projeto como o agir auto-consciente daquele que encara o absurdo.
O presente como projeto é subsumir o absurdo da vida a um quadro de escolhas responsabilizáveis.
Neste sentido, o absurdo da vida é composto de quadros de escolhas irresponsáveis.
Impossibilitadas de serem responsabilizadas porque nasceram da ausência de auto-consciência.
O projeto é o oposto do absurdo.
O projeto não tem a pretensão de negar ou solucionar o absurdo.
É tão somente a sua concretização oposta.
A mudança, realizada desse modo, é uma doce desilusão.
Desilusão é tornada o projeto bem sucedido de possibilidades.
É a negação da ilusão como o conforto daquilo projetado no passado ou futuro.
Perante o presente como projeto, o único sentimento possível é de desilusão
Ante a capacidade auto-conscientizada de que,
Uma vez o presente seja tornado projeto,
O que será e o que já foi são amputados do fluxo de acontecimentos.
O projeto torna totalmente possível qualquer forma de presente.
O projeto concede ao ser desiludido a capacidade
De agir de forma consciente e responsável dentro do absurdo da vida,
Opondo o projeto ao absurdo. Sem negá-lo, mas apenas ausentando-o.
Negar o absurdo seria uma ilusão.
O eterno-retorno do mesmo é uma ideia elaborada por F. Nietzsche. Significa que voltaremos eternamente ao mesmo instante-já, repetindo ações e ressentindo emoções. O eterno contorno significa, ao revés, que temos uma tendência a contornar situações que não compreendemos. Em vez de aceitarmos a eterna oportunidade de vivenciar aquilo que mais potência nos faz sentir, acabamos tangenciando nossa própria existência. Em vez de retornarmos, envidamos uma fuga eterna.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Desiludir-se
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