terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O todo de um vazio


Todas as palavras já foram ditas,
Mas nem todos os discursos foram feitos.
Há uma náusea da consciência plena,
Que é o sentimento de impotência diante da nossa natural incapacidade
Em vislumbrarmos e praticarmos um mundo que mais nos convém.

Olhar o todo, sentir o todo e ter a impressão de que entende o todo,
Interpretar o todo de tal maneira que todas as nossas atitudes pareçam fazer sentido,
Sentir o todo, vivê-lo em mínimos detalhes prazerosos e nos marcos transbordantes,
Achar que se é parte dentro do todo, ter tido fé nas religiões e nas filosofias,
Viver plenamente e descobrir por fim que nenhuma de nossas atitudes foi tão considerável.

Ensinaram-me a ter esperanças para que não padecesse,
Mas agora me questiono quanto à necessiadade de adoecermos
Para que só assim consigamos enxergar pela outra perspectiva:
A humilde e complacente perspectiva que está fora da esfera arrogante da consciência.

A consciência é a fonte de nossa arrogância
Unicamente pelo fato de nos tornar parte
De uma totalidade aparentemente discursável.

Viver não basta. É preciso expressar ao mundo as nossas emoções.

E depois de milênios de civilização,
Diante da insistência cega das ciências,
Que defendem, com seus discursos simbólicos e mágicos,
A possibilidade de extirparmos o sofrimento da existência
Ainda chega a nós o conhecimento de que alguns existem sem existir.

Vivem sem o pão e choram sem as lágrimas.

E depois de todos terem me castrado e me feito acreditar nessas coisas,
Depois de tanta fé que depositei na tentativa de qualquer algo de melhor,
A única coisa que resta no peito humano é uma constante dor de não se saber.
E, nessa angústia, criar nomes e expressões para tudo o que sente.

Então, por agora, eu penso que a solução para essa conjuntura humana terrível,
Para esse absurdo cotidiano do inexplicável,
Pode estar fora do discurso. Fora da ciência, da fé e da filosofia.
Fora daquilo que foi considerado humano.

Fora destas palavras.
Fora da sensação que elas até então vem causando.
Fora do contato que nunca teremos.

A solução está fora do nosso alcance,
E há um motivo muito maior do que pode presumir nossa arrogante consciência
Para que as existências concretas e imateriais da vida
Venham se estruturando dessa forma inevitável.