quinta-feira, 15 de março de 2012

A dor e a Anátema




Homenagem a Carlos pela sua melhor poesia



A dor e a Anátema

Limitado a algumas roupas sujas,
Escondo flores coloridas no bolso.
Hipocrisias, patifarias assolam-me.
Devo erigir a elas meu nojo?
Poderia, sem fé, lutar?

Alguns olhares no cume da pirâmide:
Sim, o panóptico se travestiu de Justica.
O mesmo fedor, os maus cânticos, consumismo e procrastinacao.

O tempo fede, a poesia esmorece
Fundem-se na mesma podridao.

No fundao tento encontrar os misterios imundos.
Sob a maquilagem discursiva, golpista e codificada.
O calor esquenta os ricos e derrete os pobres.
A política. Que triste é a politica, amalgamada em negócios.
Uma dor ofereceu-se nua!

Regurgitar esse nojo sobre o tapete.
Em quarentena a anátema do problema
Escondida, sequer revelada
Nenhum diploma concebido nem construído.
Todas as chuvas arrastando casas.
Em vão leem livros, se entregam à arte
e fingem um mundo que sabem inerte.

Assassinatos na terra, como julgá-los?
Assisti a sorte de muitos trabalhadores.
Alguns achei fortes, foram vencedores.
Trabalhos solertes, que ajudam a viver.
Razão diaria de sobreviver de assistencialismo.
Os mordazes filósofos da luz.
Os mordazes juízes da luz.

Atear fogo em miúdos, justamente assim.
Aos anos 2000 já falavam sustentabilidade.
Porém a morte é melhor assim.
Com ela se renova
A aos poucos a lembranca se arrima.

Fiquem ao longe, aviões, tanques, mar metálico do horror.
Uma dor ainda desafogada
Ilude as milícias, rompe o Estado.
Facam a completa reverência, paralisem O Capital
garanto que uma dor ofereceu-se nua.

Sua cor é mestica.
Suas mandalas se corporificam.
Seu nome está nas ruas.
É bonita. Mas é realmente uma dor.

Jogo-me ao chão da cidade mais rica do país ãs quatro da manhã
e vagarosamente represento em vão a dor segura de meu povo.
Do lado dos morros, nuvens clara-em-neve festejam-se.
Pequenos soldados proletários movem-se em patentes e marchas.
É bonita. Mas é uma dor. Dor proletária, sem remédio, com nojo e revoltada.