terça-feira, 21 de setembro de 2010

Para que não nos culpemos por nossa fragilidade





Gostaria de conversar com alguém
Embora ainda não conheça esta pessoa.
Se pudesse, sairia pelos cantos do mundo
Assobiando a ironia que há nas palavras que já foram ditas.

A verdade está contida nas palavras impensadas.

No caminho que passo encontro um asco.
No maço do cigarro do cigano,
Que fuma e medita e pensa assim.

E então me vem um calafrio de despedida
Me toca e me desperta da agonia
Do adeus inesperado e já aceito.

Do nosso jeito, pro nosso peito
Pra que sejamos mais que a palavra morta "humano".

Você vem com a sua normalidade e o seu convencionalismo
E me diz que conseguiu ser apenas e exclusivamente do seu jeito
Com personalidade, com autenticidade, com maturidade;
Mas o que não percebe é (o) que O Sistema se dissolveu no seu corpo.

A sua mente absorveu uma verdade que não é a sua,
E nos seus meandros, nas suas escolhas, nas suas atitudes
- E principalmente nos seus preconceitos -
Você acabou de reproduzir a mesquinharia Deles.

Eu me sinto mal. Eu não consigo me assumir enquanto personalidade.
Náusea, nojo, incômodo, impotência
E a incapacidade de retirar sensações ruins do corpo através de lágrimas e vômitos.

Sete bilhões de dentes podres na boca do capitalismo,
Duas cicatrizes e mais cinco mil anos de velhice em seu rosto sorridente.

Me diz quantas bombas precisam explodir por causa do lucro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010





Ainda que me acabassem as armas,
Haveria as flores e eu as utilizaria na batalha.

Mesmo que me tirassem os sentidos,
Não deixaria de saber por meio dos meus instintos.

Seria-lhes uma voz que ecoa
Ainda que me deixassem deserto,
Aprisionado em celas,
Escondido em exílios,
Mutilado em estacas,
Esquecido nos livros
E assassinado para a história.

Meus olhos continuarão abertos durante toda a guerra travada,
Mesmo que me torturem por alguns segundos, por minutos, horas, dias, vidas...

Continuaria indignado e incomodado
Ainda que me concedessem o eterno perdão pelos erros da humanidade.

Choraria
Ainda que não me restassem lágrimas.

Choraria
Ainda que me faltasse o amor,
Ainda que me faltasse a quem amar
E alguém por quem chorar.

Eu lutaria com as flores,
E assim golpearia as maldades,
Com tiros, com socos, com as bombas,
As ideológicas e as biológicas,
Com discursos, com a ciência,
Com meu trabalho e minha fé.

E, se fosse preciso, eu lutaria com as flores.

Eu sinto as dores dos torturados de todas as épocas,
Mas não cedo. Ainda que me dêem o choque.
Ainda que me façam inalar fumaça e tentem me afogar.
Mesmo que partam os meus ossos,
Mesmo que me destruam a capacidade de acreditar em tudo o que é humano,
Frágil, belo, sensível, saudável, construtivo, positivo.

Ainda que me cometessem o crime de arrancar a voz,
Eu seria um grito. Um grito de lágrimas, de flores e sentidos.

Eu indigno e incomodo
Porque não perdoei nenhum de vocês.

Entendam que a dialética permanecerá,
E mesmo que não queiramos, seremos a obra de seus resultados.

Vocês aceitarão a constância do eterno movimento transformador,
Ainda que não acreditem em nenhuma dessas palavras,
Mesmo que eu tenha que repeti-las de inúmeras formas distintas.

Revoltemo-nos.