O eterno-retorno do mesmo é uma ideia elaborada por F. Nietzsche. Significa que voltaremos eternamente ao mesmo instante-já, repetindo ações e ressentindo emoções. O eterno contorno significa, ao revés, que temos uma tendência a contornar situações que não compreendemos. Em vez de aceitarmos a eterna oportunidade de vivenciar aquilo que mais potência nos faz sentir, acabamos tangenciando nossa própria existência. Em vez de retornarmos, envidamos uma fuga eterna.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Para que não nos culpemos por nossa fragilidade
Gostaria de conversar com alguém
Embora ainda não conheça esta pessoa.
Se pudesse, sairia pelos cantos do mundo
Assobiando a ironia que há nas palavras que já foram ditas.
A verdade está contida nas palavras impensadas.
No caminho que passo encontro um asco.
No maço do cigarro do cigano,
Que fuma e medita e pensa assim.
E então me vem um calafrio de despedida
Me toca e me desperta da agonia
Do adeus inesperado e já aceito.
Do nosso jeito, pro nosso peito
Pra que sejamos mais que a palavra morta "humano".
Você vem com a sua normalidade e o seu convencionalismo
E me diz que conseguiu ser apenas e exclusivamente do seu jeito
Com personalidade, com autenticidade, com maturidade;
Mas o que não percebe é (o) que O Sistema se dissolveu no seu corpo.
A sua mente absorveu uma verdade que não é a sua,
E nos seus meandros, nas suas escolhas, nas suas atitudes
- E principalmente nos seus preconceitos -
Você acabou de reproduzir a mesquinharia Deles.
Eu me sinto mal. Eu não consigo me assumir enquanto personalidade.
Náusea, nojo, incômodo, impotência
E a incapacidade de retirar sensações ruins do corpo através de lágrimas e vômitos.
Sete bilhões de dentes podres na boca do capitalismo,
Duas cicatrizes e mais cinco mil anos de velhice em seu rosto sorridente.
Me diz quantas bombas precisam explodir por causa do lucro.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Fé
Ainda que me acabassem as armas,
Haveria as flores e eu as utilizaria na batalha.
Mesmo que me tirassem os sentidos,
Não deixaria de saber por meio dos meus instintos.
Seria-lhes uma voz que ecoa
Ainda que me deixassem deserto,
Aprisionado em celas,
Escondido em exílios,
Mutilado em estacas,
Esquecido nos livros
E assassinado para a história.
Meus olhos continuarão abertos durante toda a guerra travada,
Mesmo que me torturem por alguns segundos, por minutos, horas, dias, vidas...
Continuaria indignado e incomodado
Ainda que me concedessem o eterno perdão pelos erros da humanidade.
Choraria
Ainda que não me restassem lágrimas.
Choraria
Ainda que me faltasse o amor,
Ainda que me faltasse a quem amar
E alguém por quem chorar.
Eu lutaria com as flores,
E assim golpearia as maldades,
Com tiros, com socos, com as bombas,
As ideológicas e as biológicas,
Com discursos, com a ciência,
Com meu trabalho e minha fé.
E, se fosse preciso, eu lutaria com as flores.
Eu sinto as dores dos torturados de todas as épocas,
Mas não cedo. Ainda que me dêem o choque.
Ainda que me façam inalar fumaça e tentem me afogar.
Mesmo que partam os meus ossos,
Mesmo que me destruam a capacidade de acreditar em tudo o que é humano,
Frágil, belo, sensível, saudável, construtivo, positivo.
Ainda que me cometessem o crime de arrancar a voz,
Eu seria um grito. Um grito de lágrimas, de flores e sentidos.
Eu indigno e incomodo
Porque não perdoei nenhum de vocês.
Entendam que a dialética permanecerá,
E mesmo que não queiramos, seremos a obra de seus resultados.
Vocês aceitarão a constância do eterno movimento transformador,
Ainda que não acreditem em nenhuma dessas palavras,
Mesmo que eu tenha que repeti-las de inúmeras formas distintas.
Revoltemo-nos.
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