Uma poesia é verdadeiramente bela
Não por todas as coisas que disse,
Mas justamente por aquelas que, dizendo,
Acabou deixando de dizer.
Tem me faltado esse desabafo.
Tem me faltado a ausência alheia para o encontro consigo.
Tem me faltado essa solidão tão importante para que realmente sejamos.
Tem me faltado palavras para descrever coisas talvez inexprimíveis.
Tem me faltado a audácia para tentar descrevê-las.
E o que tem me sobrado é razão.
Tem me faltado a presença constante de pessoas as quais odeio.
Tem me faltado descrétido em relação a mim mesmo.
Sobra-me certezas.
Tem me faltado descontrole.
Tem me faltado lágrimas por motivos bestas.
Que chorar, essa ocasião tão especial, só faço se valer a pena.
Mas lágrima, que não poderia deixar de ser lágrima,
Só é realmente para ocasiões que não as merecem,
Sob pena de só chorarmos para aquilo que aos nossos olhos vale a pena.
Se a gente chora, é justamente porque não mais vale a pena.
Valesse e cantaríamos.
Tem me faltado paciência.
Tem me faltado uma saúde plena.
Tem me faltado tantos esportes e tantos exercícios físicos.
Tem me faltado o prazer de estar só, de mim para consigo.
O que me sobra é coisa demais.
Tão mais que transborda,
E a cada transbordada,
Vem a pobre razão achar que pra tudo há ciência.
Se eu realmente tivesse certeza de alguma coisa,
Escreveria para que ninguém lesse.
Afinal, se escrevo e leio, é porque tenho a fé de que a verdade nunca chegará.
Chegasse e se acabaria o mundo.
Isso é o que tem me faltado:
A inexplicável coceira que sofre a curiosidade
Quando o sentimento se resume ao mistério.
Sentir o mistério.
Ser o mistério.
Querer o mistério.
Porque o mistério é sim verdadeiro.
Tem me faltado mistério.
Tem me sobrado palavras ordenadas em versos.
Caos é a única coisa que realmente está infincada
Nos cérebros e corações da humanidade, apenas pela força do hábito.
Não fosse o caos, não tentaríamos nos ordenar.
Fosse uma ordem singelamente e timidamente imposta,
Para vir um louco suficientemente audaz
E desafiá-la toda.
Arrepio do lado esquerdo.
E mistério nas juntas.
Tem me faltado a dúvida de ser o que sou.
Me sobrado o achismo de o saber.
Não fossem os saberes meros achares,
Erros não haveriam para que nos construíssemos.
A vida se faz com erros.
Só a ciência consegue ser feita com acertos.
O importante é o mistério,
Guardado em cada olhar transeunte da existência,
Viagem de ida, ferida composta.
Fosse uma única dor
E já não saberíamos qual o prazer de viver.
O eterno-retorno do mesmo é uma ideia elaborada por F. Nietzsche. Significa que voltaremos eternamente ao mesmo instante-já, repetindo ações e ressentindo emoções. O eterno contorno significa, ao revés, que temos uma tendência a contornar situações que não compreendemos. Em vez de aceitarmos a eterna oportunidade de vivenciar aquilo que mais potência nos faz sentir, acabamos tangenciando nossa própria existência. Em vez de retornarmos, envidamos uma fuga eterna.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Segredo da concha
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Um comentário:
sem dúvidas captar esse nosso mistério é uma busca...ja que o inexpressivel não é uma questão de vazios, mas de execessos!
Obrigada por ter lido minha tentativa de organizar os tais excessos..srsr. Gostei dos seus textos, expressivos. continue!Abçs.
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