Morrer é uma obra de arte.
Aceitar a morte é criar intimidade com ela.
Criar intimidade com algo terrível gera incômodo.
O incômodo que vem da intimidade da aceitação impele à atitude transformacionista.
Mas como transformar uma verdade aceita plenamente, como a morte?
Como discutir a morte sem antes encará-la como algo inevitável?
Como ter a plena certeza de que deixaremos de existir
E conseguir encarar o retorno à existência?
A experiência da quase-morte faz o humano perceber sua fragilidade.
A partir do momento que se descobre totalmente frágil
O humano aceita o mundo de modo a tornar-se íntimo dele.
E não o aceita apenas por suas coisas boas, prazerosas e estimáveis.
Mas justamente pelas coisas terríveis, absurdas e desprezíveis que concebem o mundo.
Deve-se aceitar a fragilidade de modo a torná-la íntima,
Aceitar a fragilidade e usá-la como um discurso pró-vida,
Aceitar a fragilidade e enxergar o outro como idêntico
(E Não um igual, ou semelhante, ou próximo, ou irmão),
Aceitar a fragilidade e indignar-se com a sistemática tentativa de tentar afastá-la,
Aceitar a fragilidade como negação dos discursos do poder, da segurança, da verdade,
Aceitar a fragilidade como contrapartida da morte,
E não como contrapartida da vida.
Aceitar e se encontrar frágil.
Aceitar e se identificar frágil.
Aceitar e se descobrir - nas mínimas atitudes, escolhas e gestos - frágil.
Ser frágil como imperativo político-existencial.
Ser frágil da maneira mais simples e transformadora.
Enxergar o outro como idêntico-frágil.
Fragilmente existir.
Fragilmente viver.
Fragilmente ser.
A propriedade privada, o lucro e a acumulação são a negação da fragilidade.
Prova de sua existência.
Não é preciso que pintemos o quadro da vida apenas em contato com a quase-morte.
Morrer é a obra de arte daquele que viveu segundo a verdade natural
De que se o bem não for realizado, não teremos outra chance para fazê-lo.
O eterno-retorno do mesmo é uma ideia elaborada por F. Nietzsche. Significa que voltaremos eternamente ao mesmo instante-já, repetindo ações e ressentindo emoções. O eterno contorno significa, ao revés, que temos uma tendência a contornar situações que não compreendemos. Em vez de aceitarmos a eterna oportunidade de vivenciar aquilo que mais potência nos faz sentir, acabamos tangenciando nossa própria existência. Em vez de retornarmos, envidamos uma fuga eterna.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Epifania
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