
Uma carta de amor, com amor, para um amor...
Algumas pessoas se vão e, contrariando as regras do jogo humano, adquirem mais importância ainda. É que a distância é relativa. Algumas pessoas estão fisicamente distantes, mas mesmo assim compreendemos a evidência: é na distância que a importância de alguém se revela. Quanto mais longe, mais sensíveis ficamos, e assim sentimos qual peça essencial do nosso tabuleiro aquela pessoa conseguiu mexer. E algumas vezes, certas pessoas abalam o nosso edifício inteiro.
A vida, com sua luta e seu sofrimento, às vezes nos enrijece, nos enrijece demais, fazendo-nos esquecer que certas histórias não são apenas ficção literária. É que o real supera a ficção. Por isso que aqui e ali existem essas histórias sobre relações e relacionamentos humanos tão fortes que conseguiram se manter e se desenvolver nas piores adversidades. O humano, em conjunto, se reinventa. O nazista e a judia se amarão, tal qual o escravo e a senhora.
O tempo, assim como a distância, também não deixa de ser uma invenção humana. O que há de divino nessa idéia é que não pertencemos especificamente a algum lugar, a algum tempo, a alguma pessoa, ou a alguma idéia. Estamos volúveis, voláteis e então suscetíveis. Assim a liberdade se funda: na perda, na forma positiva de enxergarmos a perda. Porque nada se perde ou se acrescenta, mas apenas se transforma. Neste longo processo, fica a chance pra quem, rompendo com todas as naturais e ilógicas circunstâncias, decide amar. E ama, segue amando, o que quer que aconteça, onde quer que esteja, da forma como estiver.
Ser humano é ser diferente. Diferente porque eles conseguem amar algo que está contido em sua memória ou sua idéia. O humano tem a capacidade de amar sem estar em contato com o objeto amado. É que o contato também é relativo, e vez ou outra acabamos tocando aquelas pessoas mais especiais, na ânsia de que também nos toquem com a sua lembrança. Eu tenho a certeza de que o ser humano, quando se lembra de outro alguém com amor, estabelece uma forma de contato que nem mesmo a sua espécie capta e percebe. Ambos se lembram e se degustam na lembrança. São comunicações sem mediações, sem pontes pra que consigamos entendê-las. Porque o importante é nos comunicarmos, sempre.
Veio você, e com uma naturalidade absurda, brincou com a minha estrutura. Me reordenou e me reinventou. Mexeu em duas peças, e tive que repensar como reordenar meu tabuleiro inteiro. Você tinha apenas algumas horas e um pequeno conjunto de palavras, e mesmo assim obteve o melhor aproveitamento nesta mágica do encanto. Do encanto dos encontros e desencontros. E a prova disso, de que o que hoje eu sou contém uma parte de você; que a sua forma de existir ajudou a preencher com conteúdo o pote da minha essência; que tudo é real e vivo hoje como foi ontem e como será amanhã; a prova disso é que hoje eu sou assim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário