sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ode ao burrês - Para Mário de Andrade






Ode ao burrês


Eu insulto todos vocês - com seu burrês-níquel,
o burrismo dogma virado burrês vocabular!
Consternação burra de São Paulo!
E do Rio - de Janeiro ao Sul!
O homem-fascista, o homem-racista
O homem que se achando engajado em causas esdrúxulas
míngua em burrices chulas!


Eu insulto as covardias ardilosas!
Os coronéis-pistolões, os barões de talheres finos,
os DOUTORES chucros!
Que se enclausuram em seus condomínios-prisões
seus latifúndios-mansões, regozijando-se da picardia
dos professores particulares e mal pagos
de seus filhos tão-logo afrancesados!


Eu insulto o burrês manifesto
A burrice tornada cartilha e lição de casa
A burrice professada nos altares e nas escadas!
Seu otimismo barato e reluzente
como o sol sem dente
de suas faxineiras coitadas!


Morte à gordura!
Acumulada em seu cérebro-burro
congestionando o sangue de suas têmporas
embriagando de certezas seus neurônios podres!
Morte ao burrês-intelectual, o burrês do dia-a-dia
O burrês ensinado na escola e nas Igrejas
O burrês de terno e gravata, que comanda devassas!
"- Ai, filha, que te darei pelos teus anos debutantes?
- Quero bananas mãe, somostodosmacacos tropicais"
Mas nas favelas pretos morrem demais!


Come. Não a banana. Devora-te. Esfinge de ti mesmo,
ó burgo-burrês!
Ó purê de cérebros triturados!
Ó burrices sarapintadas e abjetas!
Ó patês e ordens legais sem foro nem legitimidade!
Ó espantosos simulacros da imbecilidade!
Devorem-se! Acabem-se!
Já se foram seus neurônios todos nesta salada descomportada!
Ódio aos imoralismos regulares!
Ódio aos seminários da desigualdade!
Ódio às campanhas de publicidade!
Ódio a mim - naquilo que me igualar ao burrês!
Morte à desídia indecorosa das manhas fingidas
Artimanhas inescrupulosas da burrice no poder!
De braços cruzados, armo meu exórdio
minha campanha de revolta - anacrônica!
Morte a suas conjecturas banais!
Morte aos seus comentários boçais!
Ódio criador, ódio desertor, ódio de puro dissabor!
Ódio vermelho de raiva, ódio mestiço,
Ódio da sua ignorância reiterada
com ponto-protocolo no cartório próximo!


Fora! Fora todos que professam o burrês!

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